Roque
Passos
Nas margens
do Almada eu sentei e chorei.
Chorei
o exílio dos meus filhos, expulsos pela falta de trabalho.
Chorei
pela hipocrisia daqueles que prometeram realizar os nossos sonhos, mas nos
deram pesadelos.
Chorei
a dor das mães que viram seus filhos tragados pela violência, porque foram
esquecidos por aqueles que tinham o dever de criar oportunidades.
Chorei
ao ver a forma irresponsável e traiçoeira com que trataram os meus recursos,
destinados a ofertar melhor qualidade de vida a minha gente.
Chorei
com os pescadores e as lavadeiras, que buscaram no Almada o seu sustento e se
depararam com uma água fétida, apodrecida pelo abandono e maus tratos.
Chorei
ao ver minha gente cabisbaixa, humilhada por aqueles que deveriam ser guardiões
de sua dignidade.
Nas margens
do Almada eu sequei as minhas lágrimas, ao ver a juventude unida, tomando em
suas mãos o próprio destino, para reconstruir a nossa terra.
Nas margens
do Almada eu voltei a sorrir.
Lembrei
o quanto sou forte e capaz. Sou Coaraci, a Terra do Sol, de uma gente que não
se entrega, não abre mão dos seus sonhos, pois são legítimos, justos e
verdadeiros.
Nas margens
do Almada eu vi a esperança renascer.