quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Nas Margens do Almada Eu sentei e Chorei



Roque Passos

Nas margens do Almada eu sentei e chorei.
Chorei o exílio dos meus filhos, expulsos pela falta de trabalho.
Chorei pela hipocrisia daqueles que prometeram realizar os nossos sonhos, mas nos deram pesadelos.
Chorei a dor das mães que viram seus filhos tragados pela violência, porque foram esquecidos por aqueles que tinham o dever de criar oportunidades.
Chorei ao ver a forma irresponsável e traiçoeira com que trataram os meus recursos, destinados a ofertar melhor qualidade de vida a minha gente.
Chorei com os pescadores e as lavadeiras, que buscaram no Almada o seu sustento e se depararam com uma água fétida, apodrecida pelo abandono e maus tratos.
Chorei ao ver minha gente cabisbaixa, humilhada por aqueles que deveriam ser guardiões de sua dignidade.
Nas margens do Almada eu sequei as minhas lágrimas, ao ver a juventude unida, tomando em suas mãos o próprio destino, para reconstruir a nossa terra.
Nas margens do Almada eu voltei a sorrir.
Lembrei o quanto sou forte e capaz. Sou Coaraci, a Terra do Sol, de uma gente que não se entrega, não abre mão dos seus sonhos, pois são legítimos, justos e verdadeiros.
Nas margens do Almada eu vi a esperança renascer.